terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Crise pode aumentar roubo a bancos em zonas rurais dos EUA


Dan Barry
O homem entrou no amigável Citizens State Bank com um capuz cobrindo seu rosto e óculos escuros escondendo seus olhos. Seu traje não parecia estranho, visto que os trabalhadores de um armazém de grãos nas proximidades costumam usar proteção similar contra o frio castigante do inverno de Nebraska.

Aqui em Carleton, a saudação usual - "Longe de confusão?" - gera um "sim" ou um "não", ambos igualmente tranqüilizadores para sua população de cerca de 136 habitantes. Mas esse homem caminhou até o guichê, com visão clara do cofre prateado aberto, e saudou a caixa com: passe o dinheiro.

A saudação recebeu uma resposta clássica de Carleton, algo parecido com: "é sério?".

O homem respondeu se certificando de que ela enxergasse o bolso de seu pesado casaco, no qual ele escondia sua mão e talvez algo mais. Seguindo o protocolo bancário, que dita que nenhuma quantia em dinheiro vale uma vida humana, ela entregou o dinheiro da gaveta enquanto observava silenciosamente dois traços físicos do ladrão. Ele tinha dedos e nariz gordos.

Ele enfiou o dinheiro em uma bolsa com zíper e partiu. Assim que saiu, a caixa gritou palavras incomuns em Carleton: fomos roubados.

O presidente do banco, Michael Van Cleef, saiu correndo de seu escritório, onde discutia a situação financeira de um fazendeiro com o analista de crédito do banco. Ele olhou pela janela a tempo de enxergar a fuga, em um Grand Am marrom coberto de poeira com um aerofólio na traseira.

Tudo aconteceu em 55 segundos.

O protocolo apropriado foi seguido. O banco foi fechado e alguém chamou a polícia. Em nove minutos, os assistentes do xerife chegaram. Logo começaram as muitas ligações de preocupação e apoio, algumas, lembra um sorridente Van Cleef, eram do tipo: "soube que foram roubados. Posso levar uma torta?"

Nesse tempo de socorros a bancos e derrocadas de hipotecas, alguns de nós podem enxergar um certo charme Robin Hood no roubo ao banco de Nebraska. Outros talvez cantem os versos do velho Woody Guthrie romantizando o violento assaltante Pretty Boy Floyd. "Alguns te roubarão com um revólver, outros com uma caneta tinteiro."

Mas o Citizens State Bank em Carleton não tem qualquer ligação com esses conglomerados bancários que incluem nomes como o AmeriCitiComGroup. Essa é a única agência de um pequeno negócio familiar com seis funcionários, três deles da família e nenhum acostumado a viagens à custa do dinheiro público. O negócio tem algumas centenas de clientes e em torno de US$ 11 milhões emprestados.

Seu edifício térreo, construído há mais de 100 anos para ser um banco, continua de pé enquanto a maioria dos outros prédios do centro de Carleton foi fechada ou interditada com tijolos: a velha mercearia Weddel's; o antigo correio, que desmoronou parcialmente há alguns anos; o velho Little Cafe, onde Thelma e Shirley vendiam tortas frescas de maçã e cereja.

Perto do banco, uma operação de grãos da Cargill funciona a todo vapor. Cargas de caminhões de soja e milho são pesadas e despejadas com um som semelhante a um lamento nos enormes elevadores de grãos, que sobem além das fachadas vazias. A cada período determinado de minutos, um longo trem de carga da Union Pacific chega ruidosamente.

Dentro do banco, Van Cleef, 46 anos, normalmente ajuda fazendeiros locais a arranjar um jeito de financiar os fertilizantes, produtos químicos, maquinário, combustível e irrigação necessários para suas plantações, tudo enquanto escolhem quais feijões e milho plantar. Não existe transação bancária pela Internet por aqui. É tudo feito pessoalmente, como vai, Mike, te vejo mais tarde no TJ's para um hambúrguer.

O negócio de Van Cleef não seguiu exatamente a cartilha da Escola Wharton. O pai de Van Cleef, Lloyd, 72 anos, era um veterano da Marinha que trabalhava em uma companhia de combustíveis em Fairbury, a 64 km, quando um banqueiro local lhe ofereceu uma mudança de carreira. Ele cresceu dentro do banco e, em 1975, decidiu comprar o Citizens State Bank de Carleton.

Seu filho adolescente, Michael, não gostou de se mudar de uma cidade com uma Pizza Hut e um cinema para outra em que os trens de passagem eram o entretenimento local. Mas ele passou a trabalhar no banco depois do colégio, freqüentou seminários bancários ao invés de faculdade, deixou de lado aspirações a um curso de Direito e acabou se tornando o presidente do banco.

"Sou eu quem faz empréstimos, depósitos," ele diz. "Tiro a neve da entrada e troco as lâmpadas."

Ao longo dos anos, o banco, como a cidade, passou por tempos difíceis. Lloyd precisou trabalhar temporariamente em um banco de outro Estado para ajudar a manter seu próprio funcionando. A esposa de Michael, Nancy, chegou a ter três empregos ao mesmo tempo: mãe de cinco, bancária e garçonete no salão da American Legion em Hebron.

Os Van Cleef lembram a prática que o bom senso recomenda para esses períodos, uma prática que algumas instituições maiores parecem ter esquecido. "Quando as coisas ficam apertadas," diz Michael Van Cleef, "não se ganha bônus."

Talvez isso explique por que o banco e os Van Cleef continuam na luta. Lloyd vive com sua esposa, Marion, que aparece uma vez por semana com um esfregão e um balde para limpar o banco. Nancy trabalha no pronto-socorro. Michael faz parte do conselho da cidade - supervisionando um orçamento de US$ 100 mil e o único funcionário público - e há poucos anos ajudou a convencer o Serviço Postal a não fechar sua única agência local. O código postal 68326 ainda vive.

Foi isso, portanto, que um homem de dedos gordos roubou às 15h14 da fria tarde de quinta-feira em 15 de janeiro. Esse foi o quarto roubo ao banco desde sua abertura em 1890, e o primeiro em meio século. Houve dois arrombamentos e o assalto de 1950 envolveu um residente local com máscara de borracha e pistola d'água. Ele fugiu - por pouco tempo - com US$ 12,50.

O assaltante e seu Grand Am sujo provavelmente viraram à direita na D Street, passando pelos destroços do antigo posto do correio, pelo novo correio na velha biblioteca e pelo TJ's Cafe, onde os moradores se reúnem às sextas-feiras para a noite mexicana. Viraram então à esquerda, direita, atravessando a Route 4 para uma estrada de cascalhos rumo ao norte, cuja trilha empoeirada passa por rebanhos de vacas, e desapareceram na vastidão dos EUA.

Durante aquela tarde e noite, pessoas em carros desaceleravam ao passar pelo banco para espiar os investigadores trabalhando atrás da fita amarela de aviso, enquanto as ligações preocupadas continuavam: do TJ's, oferecendo enviar comida; de bancos concorrentes, oferecendo enviar equipe e dinheiro. Alguns chegaram a afirmar que avistaram o Grand Am.

Michael Van Cleef disse se sentir violado - como se alguém tivesse entrado em sua casa - mas está feliz que ninguém tenha se machucado. E embora não revele quanto foi roubado, ele afirma que a quantia não valeu o esforço do ladrão.

Ele imagina o que motivou o homem com dedos gordos. Será que tinha alguma coisa a ver com o que os investigadores estão dizendo? Que devido à economia, veríamos mais assaltos na América rural?

Não interessa. Na manhã seguinte ao roubo, precisamente às 8h30, o Citizens State Bank reabriu suas portas para os ruídos e lamentos de Carleton.

Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME


Redação Terra

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